Os resultados de uma pesquisa publicada recentemente na revista British Journal of Dermatology (BJD) [1] levanta a hipótese de uma possível relação entre os filtros solares contidos em cremes faciais e a frequência cada vez maior de alopécia frontal fibrosante em mulheres. Descrita pela primeira vez em 1994 na Austrália, esse tipo de alopecia cicatricial afeta a região frontal do couro cabeludo (testa e região anterior das têmporas) e muitas vezes até as sobrancelhas. As principais vítimas são mulheres no período pós-menopausa, embora o problema também possa se manifestar em mulheres mais jovens e em homens. A incidência da patologia vem aumentando em ritmo acelerado nos últimos 10-15 anos.
Pesquisa com 105 mulheres
Para identificar as possíveis causas da nova doença, 105 mulheres com alopecia frontal fibrosante, bem como um grupo de controle formado por 100 mulheres na mesma faixa etária, responderam a um questionário relativo ao grau de exposição a um amplo leque de fatores sociais, de saúde e de estilo de vida. Paralelamente, um subgrupo de 40 mulheres portadoras dessa forma de alopecia foi submetido a um extenso teste desenvolvido na Grã-Bretanha para determinar a sensibilidade a uma série de alérgenos.
“A realização desse estudo não teria sido possível há 15 anos. A possibilidade que temos atualmente, nós e outros pesquisadores, de constituir com relativa facilidade grupos tão numerosos de pacientes com alopecia frontal fibrosante mostra o quanto essa patologia vem crescendo. Isso nos leva a pensar que pode existir uma causa externa”, explicam os autores.
Possível relação com filtros solares
As respostas ao questionário revelaram que o uso de protetores solares é consideravelmente mais alto no grupo de mulheres que sofre de alopecia do que no grupo de controle. As vítimas dessa doença geralmente usam mais hidratantes faciais e bases para o rosto, embora, em termos de frequência, a diferença em relação ao grupo de controle não seja estatisticamente significativa.
O número mais alto de alergias constatado no grupo de mulheres com alopecia pode indicar que uma reação alérgica talvez seja a causa da patologia. “As fragrâncias são usadas em cosméticos há muitos anos, portanto a presença dessas substâncias não poderia explicar a recente recrudescência de casos de alopecia frontal fibrosante”, ressaltam os pesquisadores.
Na verdade, a chave da questão parece ser a frequência de utilização de protetores solares. Na análise comparativa entre os sujeitos que participaram da pesquisa, observou-se que, no grupo de vítimas de alopecia, o número de mulheres que usavam regularmente produtos para se proteger do sol era duas vezes maior. “Embora o uso de protetores solares não seja generalizado entre as mulheres que sofrem de alopecia, não podemos esquecer que muitos hidratantes faciais contêm filtros UV, uma tendência que vem crescendo nitidamente nos últimos anos”.
Os autores da pesquisa argumentam também que, embora a alergia a filtros solares não seja muito frequente, ela é bem conhecida, e lembram que os primeiros casos de alopecia frontal fibrosante foram identificados na Austrália, no início dos anos 1980, após o lançamento de uma campanha de conscientização sobre a importância do uso de protetor solar.
Os pesquisadores reconhecem, no entanto, que não se pode descartar a hipótese de que o uso crescente de produtos solares e cuidados faciais por mulheres com alopecia esteja relacionado à atenção maior que essas mulheres costumam dar à aparência (em razão dos efeitos estéticos da doença). Além disso, assinalam um outro limite do estudo: a reduzida dimensão da amostragem estatística, que dificulta, em particular, a interpretação das diferenças existentes entre os dois grupos no que se refere ao uso de produtos para a pele.
Vale ressaltar que o estudo não permite identificar que tipos de filtros solares podem ser responsáveis pela doença.
(Tradução: Maria Marques)
Observações/;
[1] Aldoori N. e altri, “Frontal fibrosing alopecia : possible association with leave-on facial skin care productsand sunscreens ; a questionnaire study”, British Journal of Dermatology, 2016; 175:675-6
Fonte: Brazil Beauty News