O sucesso dos “microorganismos do bem” em outros setores pode ajudar a despertar o interesse dos consumidores para ingredientes naturais que ajudam a pele a criar suas próprias defesas.
Os benefícios dos probióticos em alimentos e suplementos já são velhos conhecidos dos consumidores. Mas como a indústria da beleza vem avançando no desenvolvimento de produtos com esses ingredientes e quais são os desafios para o crescimento desse mercado no Brasil?
Dados da Euromonitor International mostram que o mercado global de ingredientes probióticos em produtos de cuidados com a pele contabilizou 8.600 toneladas em 2016 e deve atingir 10.400 toneladas em 2021, com um crescimento estimado de 4% ao ano.
Segundo a especialista sênior de Beleza e Cuidados Pessoais da Mintel, Juliana Martins, a Ásia foi a região pioneira no uso das bactérias benéficas na indústria da beleza. “Muitos cosméticos faciais estão sendo desenvolvidos à base da fermentação de produtos como arroz, soja e chá verde. Os ingredientes fermentados, derivados principalmente dos probióticos, são uma maneira natural e segura de hidratar a pele, e os asiáticos já entenderam isso”, afirma.
Os números da Mintel comprovam a hegemonia asiática nos lançamentos globais entre janeiro de 2016 e abril de 2018. A Coreia do Sul lidera o ranking, com participação de 16,7%, seguida de Japão (15,6%) e China (15,3%). Os EUA vêm em quarto lugar, com 11,6% dos novos produtos.
Oportunidades para a indústria da beleza – O sucesso dos probióticos em outros setores vem contribuindo para educar os consumidores sobre seus benefícios e gerar interesse por esses ingredientes na indústria de cosméticos.
“Os probióticos podem ser vistos como uma oportunidade para expandir a tendência de proteção a agressores ambientais iniciada pelos produtos com ação antipoluição e antiluz, pois eles ajudam a pele a criar suas próprias defesas”, diz Maria Coronado, consultora sênior da Euromonitor International. “Eles também propõem uma alternativa natural aos tradicionais cosméticos antienvelhecimento”.
Coronado afirma que embora os ingredientes probióticos sejam mais comuns em produtos de skin care, há oportunidades em outras categorias, incluindo higiene oral e dermocosméticos. “Pesquisas mais aprofundadas são necessárias para desvendar a ação desses ingredientes na barreira da pele e seu impacto na saúde e no envelhecimento”.
Na esfera dos “microorganismos do bem”, diferentes tipos de ingredientes já estão sendo usados em formulações cosméticas, incluindo extratos probióticos, prebióticos, posbióticos ou, mais recentemente, ingredientes “amigáveis ao microbioma”, que ajudam a manter a saúde da colônia de bactérias e fungos do organismo.
Probióticos no mercado brasileiro – Embora já existam cosméticos com probióticos em sua formulação no Brasil, a indústria nacional ainda tem um longo caminho a percorrer. A base de dados de lançamentos globais da Mintel indica que a participação do Brasil no lançamento de produtos para a pele com as palavras-chave ‘lactobacillus’ ‘lactococcus’ ‘bifidobacteria’ ou ‘probiotic’ foi praticamente insignificante nos últimos dois anos. De acordo com dados do Euromonitor, a América Latina representa apenas 6% do mercado de ingredientes probióticos em cosméticos e o Brasil é o segundo maior mercado da região, com participação de 21%.
Entre os produtos disponíveis no mercado brasileiro, destacam-se o Hydradenfence Solution Aqua.Pro Bio (ADCOS), o Hidratante Corporal Probiótico (BioLogicus) e o Prosec (Buona Vita), um sérum para o tratamento de acnes, espinhas e cravos que promete evitar a formação de cicatrizes. Segundo Gisele Caramori, diretora técnica da Buona Vita, o probiótico usado na fabricação do Prosec é o Kopyeast, extrato lisado da levedura Saccharomyces cerevisiae, que hidrata a pele e estimula a síntese de colágeno. Ela afirma que o ingrediente tem eficácia comprovada na prevenção do fotoenvelhecimento e na cicatrização de feridas.
Para Juliana Martins, o maior entrave ao desenvolvimento de novos produtos com probióticos no Brasil é seu valor elevado, já que o processo de fabricação geralmente é complexo. Porém, com base em pesquisas de outros setores, ela afirma que a receptividade do consumidor a esses produtos pode ser um fator positivo. “O Relatório da Mintel ‘Bebidas Não-Alcóolicas’, de fevereiro de 2018, revelou que 51% dos brasileiros gostariam de ter sugestões de bebidas que melhoram a digestão, como é o caso das bebidas com probióticos. O Relatório ‘Iogurtes’, de novembro de 2017, mostrou que 42% dos consumidores brasileiros de iogurte querem saber mais sobre os benefícios de probióticos ou prebióticos nesses produtos”.
Maria Coronado afirma que ainda faltam padrões que norteiem o uso de probióticos na indústria cosmética, o que dificulta o entendimento do consumidor sobre o que esperar desses produtos. “Ainda há muitos desafios, mas também muito espaço para inovação, especialmente em países onde o panorama regulatório é mais favorável. Mais pesquisa e educação serão a chave para o mercado de probióticos evoluir na direção certa”, afirma.