A fisioterapeuta Roberta Carneiro de Toledo obteve o 2º lugar nos Temas Livres do 13. Congresso Científico Internacional de Estética e Cosmetologia da Beauty Fair, e conquistou, como parte da premiação, a publicação de seu trabalho no portal BELEZA TODAY. Confira o excelente trabalho da profissional:
FLACIDEZ E DIÁSTASE DE RETO ABDOMINAL EM PUÉRPERAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Trabalho de Roberta Carneiro de Toledo: Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Hospitalar com Ênfase em Terapia Intensiva, Especialista em Gestão e Biossegurança, Mestranda – Universidade Estadual de Goiás.
INTRODUÇÃO
A gestação promove diversas alterações fisiológicas em todos os sistemas do organismo, e esses ajustes fisiológicos tem início na primeira semana e progridem no decorrer da idade gestacional. Após o parto, também conhecido como puerpério, é o momento quando as modificações locais e sistêmicas provocadas no organismo da mulher pela gravidez e parto retornam ao estado pré-gravídico (BACHA; REZENDE, 1999).
O crescimento constante do útero, ocasionado pelo aumento do tamanho do feto, torna o abdômen protruso e favorece o deslocamento anterior do centro de gravidade. Essas alterações progressivamente podem contribuir para a anteversão pélvica acompanhada ou não de uma hiperlordose lombar, gerando sobrecarga muscular e consequentemente quadros dolorosos (NOVAES et al., 2006; BISHOP et al., 2015). Os músculos abdominais possuem importante função estabilizadora, portanto quanto mais fraca estiver essa musculatura, maior será a instabilidade articular, podendo estar associada a dores lombares (RETT et al., 2012; GRAUP et al., 2014).
As mudanças biomecânicas nos músculos abdominais facilitam o aparecimento da diástase dos músculos retoabdominais (DMRA), que pode ser definido como o afastamento entre estes dois músculos. Esta alteração pode permanecer no pós-parto imediato e tem como fatores predisponentes a obesidade, multiparidade, gemelaridade, flacidez da musculatura abdominal, alterações hormonais (relaxina, estrógeno e progesterona) associadas à sobrecarga mecânica pelo crescimento uterino. Além disso, vários outros tecidos são influenciados, incluindo tecido tissular, tecido conectivo local, incluindo a linha alba, ficam expostos, predispondo ao surgimento de flacidez local (MESQUITA et al., 1999; PAVESSI et al., 2003; LEMOS et al., 2005; MACHADO et al., 2007).
As modificações na aparência física e as alterações emocionais no período pós-parto podem interferir na qualidade de vida da mulher. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo discutir os fatores associados a flacidez e diástase de reto abdominal em puérperas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que visa contribuir e explicitar teoricamente sobre o assunto, baseado na pesquisa de artigos em bases de dados como Scielo e PubMed com as palavras-chave: Diástase dos Retos Abdominais, Pós-parto, Puerpério, Flacidez Tissular entre os anos de 2008 e 2018. Sendo estas analisadas entre o período de maio a junho de 2018. Foi adotado como critérios de inclusão da pesquisa: estudos experimentais, publicados nos últimos 10 anos, nos idiomas inglês, português e espanhol. Como critérios de exclusão da pesquisa foram definidas previamente quatro fases. A primeira fase consistia na exclusão daqueles artigos que se repetiram nas bases de dados; na segunda fase foram excluídos os estudos que em seus títulos não abordaram o tema proposto; na terceira fase foram excluídos os que não abordaram o tema de pesquisa em seus resumos. Finalmente, na quarta fase foram excluídos aqueles que a partir da leitura completa do artigo, não abordaram a questão da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 16 artigos após a aplicação dos filtros, sendo que destes 12 foram excluídos por não se adequarem à proposta deste estudo (Figura 1). Foram incluídos 4 artigos, sendo que 2 correlacionaram a diástase de reto abdominal com as variáveis obstétricas, 1 investigou a prevalência da diástase em puérperas, enquanto 1 discorreu sobre fatores materno-infantis associados à diástase dos músculos retos do abdômen. Os artigos selecionados foram descritos individualmente de acordo com dados relacionados ao autor/ano de publicação, objetivos da pesquisa, metodologia utilizada e resultados encontrados (Tabela 1).
Tabela 1: Descrição dos artigos selecionados, divididos quanto ao autor, objetivos do estudo, método e resultados encontrados.
AUTOR | OBJETIVO | MATERIAIS E MÉTODOS | RESULTADOS |
LEITE; ARAÚJO, 2012 | O objetivo deste estudo foi confrontar a relação das medidas da diástase dos abdominais com variáveis obstétricas em puérperas de maternidades públicas de João Pessoa. | Foram selecionadas 100 puérperas de acordo com a idade fértil, em puerpério imediato e que durante a internação não tenham recebido atendimento fisioterapêutico para correção da diástase. Fez-se o levantamento dos antecedentes obstétricos e clínicos por meio de um questionário e avaliou-se a diástase com um paquímetro digital. | As puérperas que apresentaram a diástase eram multíparas, multigestas, com idade entre 19 e 30 anos, tendo seus filhos por meio de partos normais, com intervalos curtos entre as gestações. Quanto à localização, houve maior incidência da diástase supraumbilical associada à separação umbilical. |
RETT et al., 2012 | Comparar a diástase dos músculos retoabdominais (DMRA) supra-umbilical (SU) e infra-umbilical (IU) entre primíparas e multíparas, correlacionou com a paridade, idade materna, índice de massa corporal (IMC) e tempo de trabalho de parto (TTP). | Ensaio clínico, no qual foram incluídas 100 primíparas com idade média de 21 anos e 100 multíparas com idade média de 27 anos submetidas ao parto vaginal. A DMRA foi avaliada nos pontos 4,5 cm acima e abaixo da cicatriz umbilical com o paquímetro. | Não foram observadas correlações da DMRA SU com o IMC e o TPP, e nenhuma correlação da DMRA IU com as variáveis estudadas. A DMRA SU foi similar entre os grupos e maior do que a IU. Encontrou-se correlação significativa entre DMRA SU e IU e, entre a DMRA SU com paridade e idade. |
RETT et al., 2014 | Comparar a distância entre os músculos retos do abdome (MRA) e a prevalência da diástase (DMRA) nas regiões supra-umbilical e infraumbilical de primíparas e multíparas no pós-parto imediato e verificar quais fatores materno-infantis podem estar associados. | Estudo transversal, incluindo 115 primíparas
e 154 multíparas. Avaliou-se a DMRA 4,5 cm acima e abaixo da cicatriz umbilical. Correlacionou se com idade materna, índice de massa corporal (IMC), idade gestacional, peso, estatura, perímetro cefálico e torácico do recém-nascido (RN). |
A distância entre os MRA supraumbilical foi 3,04 (±1,68) e 3,35 (±1,19) cm nas primíparas e multíparas. A prevalência da DMRA supra-umbilical foi 74,8% e 76,6% e, infra-umbilical 40,0% e 54,5%. Nos dois grupos observou-se correlação positiva da distância entre os MRA supraumbilical com idade materna, IMC e infra-umbilical. O IMC e peso do RN foram fatores associados à DMRA supra-umbilical na primíparas e a idade materna nas multíparas. |
DEMARTINE et al., 2016 | Verificar a prevalência de DMRA no puerpério imediato em uma amostra de mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde no município de Guarapuava-PR, Brasil, e investigar possíveis relações entre a presença de DMRA e o número de gestações, tipo de gestação e ganho de peso durante a gestação. | Estudo transversal, que incluiu amostra de 88 mulheres no puerpério imediato. Foi realizada uma avaliação específica e verificada a presença de DMRA e suas medidas. Os pontos de medida foram na cicatriz umbilical e 4,5 cm acima e abaixo da mesma. Considerou-se presente e relevante quando houvesse qualquer afastamento da linha alba. | O estudo mostrou uma prevalência da DMRA de 61,36%. As médias de DMRA foram 0,88 cm supraumbilical, 1,23 cm umbilical e 0,3 cm infraumbilical. Das puérperas que apresentaram DMRA, 31,5% eram primíparas e 68,5% multíparas. |
No período gestacional ocorre distanciamento das bordas dos músculos retoabdominais para permitir o crescimento fetal. Esse afastamento muscular é denominado diástase dos músculos retoabdominais e associa-se ao estiramento e fraqueza dessa musculatura e, durante o pós-parto, todas as modificações provocadas pela gestação retornam ao estado em que a mulher se encontrava antes do período gestacional, incluindo o distanciamento da musculatura abdominal. Porém, alguns autores consideram excessivo ou patológico quando tal afastamento permanece após a fase do puerpério e se apresenta maior do que 3 cm (NOVAES et al., 2006; RETT et al., 2012; AKRAM et al., 2014).
Além da fraqueza muscular gerada pela diástase, ocorre também flacidez muscular, que está associada à diminuição do tônus muscular, estando o músculo pouco consistente. Ela pode apresentar-se de duas formas distintas: a flacidez muscular e a de pele. É muito comum que os dois tipos apareçam associados, dando um aspecto ainda pior às partes do corpo afetadas pelo problema. Os músculos ficam flácidos principalmente por causa da falta de exercícios físicos e, quando não são solicitados, as fibras musculares ficam hipotrofiada, gerando flacidez local (LOPES; BRONGHOLI, 2009).
Demartini et al. (2016) investigaram a prevalência de DMRA no puerpério imediato em uma amostra de mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde no município de Guarapuava-PR, Brasil, e investigaram possíveis relações entre a presença de DMRA e o número de gestações, tipo de gestação e ganho de peso durante a gestação. A amostra foi composta por 88 mulheres no puerpério imediato, sendo realizada uma avaliação específica da presença de DRMA e suas medidas. Os pontos de medida foram na cicatriz umbilical e 4,5 cm acima e abaixo da mesma. O estudo mostrou uma prevalência da DRAM de 61,36%. As médias de DRAM foram 0,88 cm supraumbilical, 1,23 cm umbilical e 0,3 cm infraumbilical. Das puérperas que apresentaram DRMA, 31,5% eram primíparas e 68,5% multíparas. A medida da DRMA foi maior na região umbilical quando comparada com infra e supra-umbilical e mais prevalente nas multíparas.
Um estudo realizado por Rett et al. (2012) comparou a diástase dos músculos retoabdomina supra-umbilical e infra-umbilical entre primíparas e multíparas. A amostra foi composta por 237 fichas de dados, sendo incluídas 100 fichas de primíparas e 100 de multíparas com no mínimo 2 partos vaginais, com idade média de 27 anos. A DMRA foi avaliada nos pontos 4,5 cm acima e abaixo da cicatriz umbilical com o paquímetro. Os resultados indicaram que a DMRA supra-umbilical foi similar entre os grupos e maior do que a infra-umbilical. Encontrou-se correlação significativa entre DMRA supra-umbilical e infra-umbilical e, entre a DMRA SU com paridade e idade.
Em outro estudo transversal realizado por Rett et al. (2014), que incluiu amostra de 115 primíparas e 154 multíparas, comparou a distância entre os músculos retos do abdomen e a prevalência da diástase nas regiões supra-umbilical e infraumbilical de primíparas e multíparas no pós-parto imediato e verificar quais fatores materno-infantis poderiam estar associados. Observou-se que a distância entre os MRA supraumbilical foi 3,04 e 3,35 cm nas primíparas e multíparas. A prevalência da DMRA supra-umbilical foi 74,8% e 76,6% e, infra-umbilical 40,0% e 54,5%. Nos dois grupos observou-se correlação positiva da distância entre os MRA supraumbilical com idade materna, IMC e infra-umbilical. O IMC e peso do RN foram fatores associados à DMRA supra-umbilical na primíparas e a idade materna nas multíparas.
Em relação às variáveis obstétricas, Leite e Araújo (2012) investigaram a relação entre o valor das medidas da diástase dos abdominais com variáveis obstétricas em puérperas de maternidades públicas de João Pessoa. Foram selecionadas 100 puérperas, levando-se em consideração os antecedentes obstétricos e clínicos por meio de um questionário. Posteriormente, avaliou-se a diástase com um paquímetro digital. Os resultados indicaram que 53 puérperas apresentaram diástase, sendo que estas eram multíparas, multigestas, com idade entre 19 e 30 anos, tendo seus filhos por meio de partos normais, com intervalos curtos entre as gestações. Quanto à localização, houve maior incidência da diástase supraumbilical associada à separação umbilical.
CONCLUSÃO
Após revisão literária conclui-se que a DMRA está presente em grande parte das mulheres após a gestação, sendo mais prevalente em mulheres multíparas, multigestas, submetidas ao parto normal e com intervalos curtos entre as gestações.
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