Comumente encontrado nas formulações hidratantes, o petrolato, um dos derivados petróleo, é com certeza um dos componentes mais polêmicos do mercado cosmético. “O petrolato é geralmente encontrado nos produtos na forma de um de seus derivados, o óleo mineral, que possui vantagens em relação aos óleos vegetais, sendo assim preferido pelas empresas fabricantes de cosméticos. Isso por que, além de seu baixo custo, o óleo mineral não oxida tão facilmente quanto o vegetal e possui moléculas grandes demais para penetrarem na pele, logo é menos provável de causar alergias ou sensibilização da pele”, explica Lucas Portilho, consultor e pesquisador em Cosmetologia, farmacêutico e diretor científico da Consulfarma. Mas então por que a substância é vista como vilã?
Segundo o pesquisador, o petrolato possui moléculas chamadas de hidrocarbonetos aromáticos, que, de acordo com estudos, estão relacionadas ao desenvolvimento do câncer. Porém, estes estudos se referem ao desenvolvimento da doença em trabalhadores que estão diretamente expostos ao petrolato não refinado. “A questão é que, em cosméticos, o petrolato já passou por um processo de refinamento. Dessa forma, é completamente seguro e até mesmo certificado por órgãos reguladores como ANVISA, FDA e Europe Comission”, afirma. “Entretanto, apesar da forma do petrolato presente nos cosméticos não favorecer o aparecimento de câncer, o óleo mineral é uma substância comedogênica, ou seja, pode obstruir os poros, facilitando o aparecimento de cravos.”
Já para o meio ambiente, o óleo mineral é realmente um vilão. Isso por que é proveniente de uma fonte não renovável, isto é, que um dia vai se esgotar, diferentemente de um óleo vegetal extraído de uma semente produzida através de cultivo sustentável, que sempre estará disponível. “Além disso, após lavarmos o produto com óleo mineral, a substância, que não se mistura com a água e está presente em altas concentrações nos cosméticos, chega até os rios, o que gera um enorme gasto em sistemas de tratamentos para remover o petrolato da água”, alerta o especialista.
Mas, afinal, o petrolato e seus derivados são eficazes quando se trata da hidratação da pele? “O óleo mineral é oclusivo, ou seja, impede a evaporação excessiva de água pela pele. Logo, hidratantes com a substância mantém a pele hidratada apenas até serem retirados, pois não atuarão em nenhuma das causas da pele seca, que pode ocorrer devido a diversos fatores, incluindo falta de proteínas que mantem a barreira cutânea intacta, afinamento da pele ou falta de ceramidas e aquaporinas”, completa Lucas.
Na hora de escolher entre cosméticos com óleo mineral ou vegetal é fácil. Apesar de os produtos com petrolato serem de baixo custo e, consequentemente mais baratos, o ideal é optar por aqueles que levem óleo vegetal na fórmula, pois assim o meio ambiente estará sendo preservado. “Já para identificar o uso de petrolato e seus derivados nos produtos basta observar a embalagem. Os ativos cosméticos são sempre descritos no rótulo através de uma nomenclatura internacional chamada de INCI (International Nomenclature of Cosmetic Ingredients). Então se você encontrar nomes como Paraffinum Liquidum, Mineral OIl ou Microcrystalline Wax na embalagem de um produto é porque ele conta com petrolato em sua fórmula”, finaliza Lucas Portilho.
FONTE: Lucas Portilho – Consultor e pesquisador em Cosmetologia, farmacêutico e diretor científico da Consulfarma e Pesquisador em Fotoproteção na Unicamp.