A beleza e suas implicações na representação de si têm grande efeito no comportamento e nas relações dos indivíduos. A percepção de si mesmo é o que dá a identidade e o reconhecimento do self. A partir da ideia de que o ego inicialmente é totalmente corporal, conforme relatos da psicologia, e que ao longo do desenvolvimento humano o corpo continua ocupando forte relação com o psiquismo, a cirurgia plástica estética apresenta-se, para alguns, como a solução para os “defeitos da genética” e pode ser entendida como uma saída para a insatisfação e o desequilíbrio da conexão corpo e mente.
A pressão externa, por meio da mídia e dos padrões de beleza, acaba mobilizando o indivíduo em sua autopercepção e, simultaneamente, na sua autoestima. Por isso, as relações entre as pessoas estão cada vez mais efêmeras nos dias atuais, sendo a aparência um importante elemento de julgamento nas interações sociais.
Nestes casos, o comportamento se estrutura no que é considerado mais belo ou menos belo. Assim, para estas pessoas, a beleza passa a ser um valor social que pode garantir sucessos ou fracassos, tanto nas relações interpessoais quanto na vida profissional.
Para falar mais sobre esse assunto, conversamos com a cirurgiã plástica Dra. Eliane Hwang (CRM-SP 114870), integrante do corpo clínico da Unidade de Tratamento de Queimaduras do Hospital São Paulo/UNIFESP, do Hospital São Cristóvão e do Hospital Heliópolis, em São Paulo. Acompanhe:
Qual a diferença entre a cirurgia plástica corretiva e a estética?
Corretiva: são as cirurgias necessárias para restauração do bem-estar físico e psíquico, reparando verdadeiras enfermidades, congênitas ou adquiridas que causam prejuízo à saúde física ou mental, como reconstrução de mama pós cirurgia para extirpação do câncer, correção de cicatrizes pós queimaduras ou outros acidentes, correção de anomalias craniofaciais, dos membros ou tronco congênitas e pós cirurgia bariátrica, quando ocorre grandes perdas ponderais.
Estética: quando realizada com o objetivo de melhorar a aparência sem obter alguma melhora no estado de saúde, intervindo em deformidades ou algum aspecto físico de desagrado do paciente que não lhe causa prejuízo de ordem funcional. Aqui podem ser considerados procedimentos de aumento de mamas com próteses, plástica de abdome e de pálpebras, rinoplastia, lifting facial e orelha em abano.
Como é possível avaliar se o paciente está com problema de falta de autoestima?
A falta de autoestima não caracteriza a depressão. Normalmente é possível perceber nos pacientes que tem uma queixa em relação ao corpo desproporcional ao que realmente é, ou se queixa de vários defeitos menores ou quase imperceptíveis. Muitas vezes a realização da cirurgia melhora a autoestima desses pacientes. Serve como um impulso ou motivação para se cuidar mais, tanto da saúde quanto da aparência.
O cirurgião é capaz de perceber se o paciente apresenta problemas psicológicos mais graves, como depressão ou dismorfismo corporal?
Os problemas psicológicos e psiquiátricos podem ser percebidos durante a consulta, quando é feita toda uma avaliação do histórico do paciente. Esses distúrbios são bem diferentes da falta de autoestima. Normalmente vem acompanhado de um quadro de depressão leve ou distimia, uso de medicações controladas, histórico de múltiplas cirurgias com resultado insatisfatório, busca por vários cirurgiões diferentes, entre outros.
Problemas de autoestima baixa que são “resolvidos” com cirurgia plástica acontecem mais em quais faixas etárias?
Normalmente ocorre em pacientes jovens do sexo feminino, entre 20-40 anos.
Qual a importância de alinhar as expectativas do paciente?
O paciente precisa saber exatamente qual resultado a cirurgia pode lhe oferecer, principalmente ser orientado quanto a todas as complicações possíveis que possam comprometer tanto o pós-operatório quanto o resultado.
Quais as orientações a um paciente que se encontra em dúvida sobre o procedimento?
Primeiro, avaliar qual o grau de importância que “aquele defeito” a ser corrigido tem no corpo e até que ponto a cirurgia vai melhorar em sua qualidade de vida.
Também é necessário avaliar se o mesmo está preparado para enfrentar a dor e o desconforto do pós-operatório, se terá apoio dos familiares e tempo disponível para o repouso.
O que dizer aos pacientes ansiosos, que desejam ver o resultado rápido?
O resultado de uma cirurgia plástica nunca é imediato, mesmo nas cirurgias menores, pois o processo de cicatrização é lento. Oriento que será possível avaliar forma e cicatriz somente após seis meses e em outras cirurgias, como a de nariz, por exemplo, o período é ainda mais longo, no mínimo um ano. Existem outras cirurgias que necessitam de mais tempo cirúrgico, como as reconstruções de mama. O paciente bem orientado não fica ansioso, pois sabe como o pós-operatório irá transcorrer.
Qual a importância do apoio da família no momento de decidir pela cirurgia plástica?
O apoio familiar é muito importante, porque o paciente precisará de ajuda no pós-operatório, tanto para os cuidados com curativo, vestimenta das malhas compressivas e banho nos primeiros dias, quanto para dirigir, cozinhar, cuidados com os filhos, animais de estimação, entre outras atividades.
Fonte: Dra. Eliane Hwang (CRM-SP 114870) – Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia/MG executou Residência Médica em Cirurgia Geral pelo Hospital do Servidor Público Municipal e em Cirurgia Plástica pelo Hospital Heliópolis, ambos em São Paulo/SP, em seguida realizou especialização em Reconstrução de Mama pelo Centro de Referência da Saúde da Mulher no Hospital Pérola Byington, São Paulo/SP. Possui título de Especialista em Cirurgia Plástica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Atualmente integra o corpo clínico da Unidade de Tratamento de Queimaduras do Hospital São Paulo/UNIFESP, São Paulo/SP e da equipe de cirurgia plástica do Hospital São Cristóvão, além de atuar como Médica Assistente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Heliópolis, na capital paulista.