De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é o sexto fator principal de mortes no mundo. Todos os anos, cerca de 3,4 milhões de adultos morrem como consequência do sobrepeso. Algumas das razões que podem colaborar com o crescimento do índice tem origem em mitos alimentares que se disseminaram e ainda confundem muitas pessoas.
Um destes mitos se refere ao colesterol, que é amplamente disseminado e mal compreendido. O excesso de informações desencontradas ao longo dos anos tem levado milhares de pessoas a adoecer, ingerirem medicamentos e mudarem sua alimentação para pior. Para desmistificar, o médico e especialista no atendimento de pacientes diabéticos e com sobrepeso, Dr. Patrick Rocha, reuniu dados para explicar os principais erros adotados em uma dieta alimentar e orienta como é possível começar a mudar.
Historicamente, o mito do colesterol foi difundido após a publicação de um estudo desenvolvido pelo médico americano Ancel Keys, em que ele comparava a taxa de mortalidade por doenças cardíacas com a quantidade de gordura ingerida pela população, buscando demonstrar que a taxa de mortalidade era proporcional ao consumo de gordura. No entanto, destaca Dr. Rocha, alguns detalhes importantes foram omitidos por Keys, que desconsiderou dados coletados em outros países, utilizando-se apenas daqueles que podiam comprovar sua teoria.
Após esse estudo, ao qual é atribuída a origem do mito do colesterol, foram realizados inúmeros outros, entre eles o Framingham Heart Study, um dos mais respeitados no assunto por ter acompanhado diversas gerações. Neste estudo, comprovou-se o grande equívoco cometido por Keys: eles concluíram que não havia nenhuma relação comprovável entre a ingestão de gorduras e as doenças cardíacas.
“Contrário ao que dizem, o colesterol é fundamental para a saúde. O colesterol é essencial para formar hormônios que são mensageiros e mantêm nossos órgãos funcionando da forma correta. É importante conscientizar as pessoas que os dois principais vilões da alimentação que são amplamente consumidos diariamente são o açúcar e o trigo. No caso do Diabetes tipo 2, a causa base dessa doença é a mesma do sobrepeso: é a resistência à insulina causada principalmente pela ingestão a longo prazo de trigo, açúcar e alimentos intitulados como light, que não trazem benefícios e ainda intoxicam o organismo.”, enfatizou Dr. Patrick Rocha.
De acordo com o médico, o medo das gorduras saudáveis é considerado um dos maiores obstáculos para quem quer emagrecer e se afastar das chances de desenvolver o diabetes. E destaca, tanto nas pesquisas mais recentes quanto nos tratamentos que acompanha é observada a importância de adotar uma alimentação estratégica, rica em gorduras saudáveis, como as que estão presentes nas carnes e também nos laticínios integrais (iogurte, coalhada, manteiga), além do óleo de coco, azeite de oliva, abacate, ovos e outros.
“O melhor caminho para uma alimentação saudável não tem tanto a ver com a diminuição do colesterol, como muitas vezes tem se tentado estigmatizar. Mas tem a ver, principalmente, com a qualidade das gorduras que são consumidas. É preciso eliminar do dia a dia, pouco a pouco, o açúcar e trigo e adicionar à rotina alimentar gorduras estratégicas para o organismo e proteínas de alto valor biológico”, orientou Dr. Rocha.
Uma recomendação ultrapassada: A Pirâmide Alimentar
Outro ponto em destaque nos estudos desenvolvidos pelo médico Patrick Rocha mostram que a ‘demonização’ das gorduras se deu a partir do questionável estudo conduzido por Ancel Keys, quando um grupo de políticos se reuniu na década de 70 e criou o conhecido guia da Pirâmide Alimentar. Naquele momento foram definidas as diretrizes alimentares consideradas ideais para a população daquela época.
No entanto, o que pouco se questionou nos últimos anos, é que a base da pirâmide (a maior quantidade de alimentos) é formada por farináceos de trigo ou carboidratos refinados. E as gorduras saturadas (carnes gordas, manteiga de leite, bacon, óleo de palma, banha de porco), que até então eram usadas pela população e até por redes de restaurantes, foram retiradas do mercado e substituídas pelos óleos vegetais (soja, girassol, canola, algodão e outros).
Era anunciado o início de uma tragédia. Após a definição dessas medidas que deram origem a criação da pirâmide alimentar, houve uma epidemia de obesidade sem precedentes na história dos EUA e também do Brasil, como é possível observar nos gráficos mais recentes. De acordo com estudo publicado pela revista científica The Lancet, desde 1980, o número de pessoas obesas aumentou em 28% na população adulta e 47% na infantil. As evidências estão em todo o lugar, é tempo de reavaliar os tradicionais e métodos de avaliação da dieta alimentar.