Durante a pandemia e a quarentena, a nossa rotina mudou muito e o computador e o celular ganharam ainda mais importância na vida diária, para continuarmos a trabalhar em home office. As videoconferências foram estendidas: agora não só precisamos falar com clientes, parceiros e fornecedores que estão distantes, mas também com aqueles que moram na mesma cidade – e até com quem trabalhamos, já que não estamos mais no mesmo ambiente.
Esse contato direto com as videochamadas pode afetar de muitas formas o mundo da beleza, do bem-estar, dos cuidados com a pele e dos procedimentos estéticos. Nos Estados Unidos, a imprensa especializada já cunhou o apelido “Efeito Zoom” (com referência ao aplicativo de videochamadas), para mostrar a forte influência das câmeras ligadas (o tempo todo) na nossa autocrítica com relação à aparência. “O que estão chamando de ‘efeito zoom’ tem a ver com o fato de as pessoas estarem frente a frente com a imagem delas mesmas, de forma muito mais constante do que o habitual. Isso, somado a um pouco de tempo extra para examinar nossa pele, nos faz observar alguns sinais que passavam despercebidos na correria do dia a dia e que vão desde pequenas manchas e cicatrizes de acne até (e principalmente) linhas de expressão mais demarcadas”, afirma a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “O fato de estar em casa olhando no espelho ou fazendo uma videoconferência o dia inteiro, aliado à ansiedade e ao estresse característico desse período, pode ser um impulso para o autocuidado, o que é positivo, mas nós médicos devemos observar se isso não evolui para um caso mais sério de distúrbio de imagem, como dismorfia ou insegurança com a própria aparência”, acrescenta o cirurgião plástico Dr. Mário Farinazzo, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Mas o que será que as câmeras estão mostrando tanto? “Na verdade, muitas pessoas que têm um cuidado maior com a pele, e fazem sua rotina skincare na frente do espelho, até sabiam da existência de algumas alterações estéticas, como manchas, cicatriz de acne ou a própria acne, mas as videoconferências têm despertado a atenção para outros pontos. Por exemplo, o pescoço, que pode ter rugas mais demarcadas e está ‘escondido’ abaixo do rosto, que é o lugar que as pessoas mais dão atenção”, explica a Dra. Paola. “E outros problemas também são característicos desse momento de muito estresse e desregulação dos horários, como queda de cabelo, olheiras, inchaço facial, que são alterações que podem ser tratadas”, completa a médica. Só para ilustrar, um relatório do banco BTG Pactual sobre o legado da quarentena para o consumo mostra que o tópico “skincare” contou com um aumento de 66% no número de buscas entre fevereiro e abril, com destaque para a busca “como fazer skincare?”.
Além disso, existe outro porém: olhar no espelho é diferente de se ver em uma câmera de videoconferência. “Em uma reunião, estamos falando, debatendo ou sorrindo, coisas que não costumamos fazer no espelho. Então, é normal que algumas linhas de expressão fiquem mais sobressalentes. Mas como as pessoas estão tendo muito contato com a própria imagem em movimento e expressões diferentes, é legítimo que elas queiram tratar”, diz o Dr. Mário.
Segundo o cirurgião-plástico, no entanto, um alerta importante precisa ser feito com relação às câmeras dos celulares, que causam um efeito chamado Fish Eye, que distorce a imagem deixando o nariz, por exemplo muito maior do que é na realidade. Isso pode acontecer nas selfies também, quando o celular fica a uma distância muito curta em relação à face. “Quanto mais paralelos os feixes de luz entram na lente da câmera, mais a imagem formada corresponde à realidade. Acontece que, no caso dos celulares, por conta do tipo de lente e da sua distância em relação à face, esses feixes entram de forma não paralela. É um fenômeno físico, que é minimizado no caso de fotos mais profissionais”, diz o Dr. Mário, que também é Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
A iluminação e o ângulo são outros dois pontos importantes que podem influenciar na autopercepção. “Tudo é uma questão do contraste entre a luz e a sombra e o ângulo escolhido. Tanto é que nas fotos que tiramos antes e depois das cirurgias, tudo tem de estar padronizado para poder ser comparado. A distância entre a câmera e o paciente, a intensidade e direção da luz e o tipo de lente devem ser sempre os mesmos. Isso é tão importante, que em alguns congressos médicos, uma foto mal executada pode significar o insucesso de toda uma apresentação”, afirma o médico.
A boa notícia é que existem muitos tratamentos para alterações dermatológicas de manchas, rugas, flacidez, acne, cicatriz. “A indicação deve ser feita pelo dermatologista, após analisar a pele do paciente. Podemos utilizar tecnologias como lasers, ultrassons e até injetáveis e bioestimuladores”, afirma a Dra. Paola. E fique tranquilo com relação aos tratamentos antienvelhecimento: até as cirurgias plásticas hoje buscam resultados mais naturais. “As técnicas evoluíram para conferir maior naturalidade aos pacientes, sempre respeitando seus traços. A ideia de uma aparência artificial após um procedimento já não é mais a tendência nos procedimentos”, finaliza o Dr. Mário.