A comunidade científica já demonstrou que fatores emocionais podem agravar as crises de Dermatite Atópica e influenciar o desenvolvimento da doença. E um novo estudo, publicado na edição de janeiro e fevereiro do periódico Dermatitis, diz que a depressão materna no período pós-parto está associada ao desenvolvimento de dermatite atópica ao longo da infância e adolescência, evidenciando que o vínculo emocional entre a mãe e o bebê no começo da vida pode influenciar o surgimento de doenças de pele. “A Dermatite Atópica é uma doença inflamatória crônica da pele, tipicamente caracterizada por coceira, dor e distúrbios do sono. Também tem sido fortemente associado a vários distúrbios de saúde mental, como depressão, ansiedade e ideação suicida”, explica a dermatologista Dra. Kédima Nassif, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
De acordo com a dermatologista, na doença, os distúrbios causados pela dermatite atópica estão relacionados à disfunção da barreira cutânea, o que propicia o desequilíbrio das ceramidas da pele. “A dermatite atópica manifesta-se em áreas na pele com falha na proteção (barreira cutânea), preferencialmente em zonas extensoras e flexoras, como: a dobra dos braços e atrás do joelho, além do pescoço, mãos e tornozelo. Mas pode acometer qualquer área de pele e em casos raros e graves quase todo o corpo. A localização preferencial varia de acordo com a idade de acometimento da doença”, completa. As crises tendem a melhorar com o decorrer do tempo e em apenas 25% dos casos persistem na idade adulta.
O estudo liderado por Jonathan Silverberg, Phd em Dermatologia e professor da Universidade George Washington, examinou a relação entre depressão materna no período pós-parto e quadros depressivos maternos e paternos na infância posterior com o desenvolvimento de dermatite atópica em crianças e adolescentes. Os dados analisados foram do Fragile Families and Child Wellbeing Study, um estudo de corte prospectivo de 4898 crianças nascidas em 20 cidades metropolitanas dos EUA.
Os médicos descobriram que a depressão pós-parto estava associada a maiores chances de desenvolvimento de dermatite mais tarde na infância, dermatite mais persistente e aumento do distúrbio do sono em crianças com dermatite. “Os resultados do estudo ainda sugerem que a depressão pós-parto está associada à dermatite atópica mesmo em crianças e adolescentes mais velhos, com doença mais persistente e maior distúrbio do sono”, diz a médica.
Segundo os pesquisadores, é necessária uma pesquisa continuada para confirmar as associações encontradas, determinar os mecanismos subjacentes e identificar intervenções apropriadas. Os autores do estudo sugerem que os pediatras devem considerar triagem e intervenção precoce para depressão pós-parto para identificar bebês com maior risco de dermatite atópica. A Dra. Kédima Nassif lembra que há vários estudos mostrando que quadros de estresse e depressão podem causar diversos problemas de saúde, inclusive na pele. Por isso, o melhor a fazer é buscar acompanhamento psicológico e psiquiátrico, seguindo o tratamento para evitar problemas relacionados. “Quanto aos filhos, a ajuda dermatológica e pediátrica é fundamental para tratar o quadro”, afirma.
Como combater — A dermatologista explica que a primeira abordagem para o tratamento é afastar os fatores desencadeantes e irritantes, sendo o principal deles a pele seca. “Manter a pele bem hidratada, livre do ressecamento é um fator chave, para isso usa-se hidratantes específicos, além de cuidados de higiene como evitar banhos quentes e demorados, evitar excessos de sabonetes no banho. Outro pilar do tratamento é controlar a inflamação e dessa maneira o prurido, com uso de cremes ou pomadas e até medicações por via oral”, completa. Um fator chave no tratamento é restaurar a barreira cutânea. A médica diz que, como medicamentos por via oral em crianças são difíceis de manejar, uma das opções é o uso de medicamentos manipulados, como no caso do xarope.