Apesar de estar na moda entre os procedimentos estéticos do momento, a harmonização facial é um termo que foi cunhado por profissionais da saúde e que não designa um tratamento médico em si. “Ele nada mais é do que fazer aplicações de ácido hialurônico no rosto, que é uma coisa que já se fazia antigamente”, afirma o dermatologista Dr. Jardis Volpe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. O problema é que alguns profissionais não-médicos que realizam esse tipo de procedimento podem ignorar alguns pontos cruciais: “O principal deles é realizar a tal da harmonização facial em pacientes que já tem um preenchimento definitivo no rosto, como PMMA ou metacrilato, que na verdade são o mesmo produto, mas as pessoas conhecem pelos dois nomes”, alerta o dermatologista. “As práticas médicas, pelos estudos científicos, não indicam aplicações de substâncias como ácido hialurônico em cima de um preenchedor definitivo, pois há risco de infecções ou você pode causar uma reação imunológica tardia no preenchedor”, acrescenta.
De acordo com o dermatologista, o metacrilato é um derivado do plástico, que é fabricado e aprovado no Brasil, mas é um produto que já se mostrou com potencial de riscos futuros. “Essas complicações na maioria das vezes não são imediatas e sim tardias, aparecendo depois de 5 anos. Elas podem ser: nódulos, granulomas, inchaços, deformações, infecções no local da aplicação e infecção à distância. A chance dessas complicações aumenta se você injeta outros preenchedores no local ou próximo ao local onde existe esse metacrilato”, afirma. Muitas vezes o PMMA precisa ser retirado cirurgicamente por conta dessas adversidades mais graves.
O metacrilato é um produto que não é absorvido pelo organismo, e de acordo com o Dr. Jardis, os macrófagos não conseguem digeri-lo, então a substância fica no organismo. “Ele encapsula e se integra ao tecido. Porém, o que se vê é que ao redor dele, dessas micropartículas, se forma uma camada chamada biofilme – que é muito bem estudada. Isso nada mais é do que uma camada de micro-organismos, que tem potencialidade de infectar os tecidos depois, principalmente se manipulados”, afirma.
De acordo com estudo de 2013 da Dermatologic Surgery, que é uma renomada revista da Sociedade Americana de Cirurgia Dermatológica, em quase 30% das pessoas que tiveram complicações do metacrilato, elas aconteceram depois de injeções de novos preenchedores, mesmo os temporários como ácido hialurônico. “E é esse o produto usado nas harmonizações faciais. Isso pode não acontecer imediatamente, mas acontecer depois. Por isso é importante alertar a população”, afirma. E como saber se o paciente tem metacrilato ou não? “O dermatologista ou cirurgião plástico, que tem experiência com esses produtos, podem apalpar e ver se o produto está ali. Se o médico tiver alguma dúvida ele pode pedir exames complementares como ultrassom”, afirma o médico. “Consulte sempre um dermatologista ou cirurgião, pois somente eles poderão indicar o que pode ser feito após um preenchimento definitivo. Alguns tratamentos podem ser feitos, como mesoterapia, biorrevitalizações e, principalmente, os lasers, que hoje com os avanços tecnológicos conseguem resultados muito satisfatórios”, finaliza o médico.