A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 76 mil mortes maternas e 500 mil mortes de bebês, antes ou depois do nascimento, ocorram anualmente no mundo em virtude da pré-eclâmpsia, doença que atinge mulheres grávidas e é caracterizada por lesão endotelial e resposta inflamatória sistêmica. A causa da doença envolve muitos fatores e provoca alterações no desenvolvimento placentário, sendo que seu diagnóstico clínico baseia-se no aparecimento de hipertensão arterial (acima de 140/90 mmHg) após a vigésima semana de gestação.
Com a finalidade de aprofundar os estudos sobre a pré-eclâmpsia, a Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp (FMB), por meio de seu Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) coordenarão uma pesquisa que visa estabelecer métodos de prevenção da pré-eclâmpsia, acompanhamento especializado às gestantes e redução dos partos prematuros relacionados à doença.
Para atingir os objetivos do estudo, será avaliado um protocolo que associa marcadores sanguíneos e informações clínicas. Acredita-se que esse protocolo seja capaz tanto de rastrear, no início da gestação, pacientes com risco de desenvolver pré-eclâmpsia, como de orientar o acompanhamento das pacientes que desenvolverem a doença. “Assim, torna-se possível reduzir as antecipações desnecessárias dos partos dessas pacientes, obtendo-se redução da prematuridade e das cesáreas, sem se perder a segurança no acompanhamento dessa grave doença”, explica o professor da FMB Leandro Gustavo de Oliveira, um dos idealizadores do estudo.
A FMB será responsável pela elaboração de pesquisas científicas sobre a pré-eclâmpsia e outros problemas gestacionais como prematuridade, restrição de crescimento fetal e diabetes. Para tanto, a Instituição implantará um bio-repositório (espaço para armazenamento de amostras biológicas de pacientes de todo o país) em sua Unidade de Pesquisa Experimental (Unipex). “O professor Marcos Bastos Dias, da Fiocruz, do Rio de Janeiro, será responsável pela avaliação clínica dos resultados, enquanto nós seremos responsáveis pela pesquisa básica”, explica o professor Leandro. “Os nossos resultados poderão ser comparados com os resultados obtidos nas amostras biológicas das instituições internacionais envolvidas”.
Para ser viabilizado no âmbito da FMB, o estudo conta, desde o início de sua elaboração, com apoio dos professores José Carlos Peraçoli e Marilza Vieira Cunha Rudge, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, e, recentemente, ganhou respaldo da professora Célia Regina Nogueira, coordenadora do Conselho Gestor da Unipex.
Captação de pacientes
As pacientes participantes do estudo serão gestantes atendidas nas Unidades Básicas de Saúde e nas próprias maternidades participantes, ou seja, tanto pacientes com risco para desenvolver a doença quanto aquelas já diagnosticadas com pré-eclâmpsia serão acompanhadas. “Teremos o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Botucatu e de todas as maternidades de referência participantes”, salienta Leandro.
As cidades que constituem o Pólo Cuesta (Anhembi, Areiópolis, Avaré, Bofete, Botucatu, Conchas, Itatinga, Paranapanema, Pardinho, Pratânia e São Manuel) serão contatadas e orientadas sobre todos os procedimentos do estudo. Os profissionais de saúde que atuam nestas cidades também participarão do programa de transferência de conhecimento.
A doença
A pré-eclâmpsia é uma enfermidade sem cura e sem tratamento específico. Sendo assim, admite-se que a “cura” é a realização do parto. Dessa maneira, muitas pacientes são submetidas à antecipação do parto, principalmente por cesariana, de maneira inadvertida, fazendo com que importantes 18% de todos os partos prematuros no Brasil sejam decorrentes da pré-eclâmpsia. Nos países desenvolvidos esse número é de 8%. O impacto da pré-eclâmpsia sobre a gestação é visto como preocupação mundial.
Multicêntrico
A pesquisa envolverá instituições nacionais e internacionais. Entre as nacionais encontram-se o Instituto Fernandes Figueira e a Maternidade Aurélia Buarque de Holanda (Rio de Janeiro), o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Campinas), o Instituto Materno Infantil (Pernambuco), a Maternidade Assis Chateaubriand (Fortaleza), a PUC do Rio Grande do Sul e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As instituições internacionais envolvidas são Universidade de Pittsburgh (EUA), King´s College (Londres), Universidade de Londres, Universidade de Oxford e a British Columbia (Canadá).
“As instituições internacionais têm muito interesse em fazer pesquisas no Brasil devido às elevadas taxas de complicações que temos aqui, sobretudo as altas taxas de mortalidade materna”, destaca professor Leandro. O docente explica que o projeto prevê o desenvolvimento de um programa de transferência de conhecimento visando dar suporte aos profissionais de saúde responsáveis pelo atendimento de gestantes fora do ambiente universitário. “Esse é um programa de extensão universitária que vai levar a esses profissionais técnicas de controle clínico e inovações laboratoriais”, explica.
Investimento
A execução do estudo se dará por meio da liberação de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação Bill & Melinda Gates. “O projeto envolve ainda outras fontes de fomento, visando atingir o dobro desse valor”, complementa o docente da FMB.